Memórias docentes
As discussões a cerca das leituras me
fez ver que ao descrever a memória, alguns fatos ficam retidos, ou seja, não
divulgados por acreditar que não cabia no texto "memorial" e que
tinha que me ater em dados mais voltados para a vida profissional. Já vejo essa
possibilidade de encaixe, ou melhor, dizendo, não posso fugir do contexto
social em que as historias de vida profissional se entrelaçam por fios na busca
de ordenação e coerência de fatos e dados presentes, resultantes de um passado
vivido e vivo dentro da minha mente.
A exemplo desse dito, cito aqui o
estudo literário “Dom Quixote" quando ao ler as histórias contadas por
Sancho ao cavaleiro andante, recordo das histórias que meu pai contava nas
noites enluaradas deitado numa esteira e ria e fazia a gente ri, até então
esquecidas.Constato hoje que esse episódio retido na minha memória e reativado
com as discussões em cima dos textos sugeridos nesse geac me faz descobri o
porque na minha adolescência lia e relia “Meu pé de Laranja Lima” (José Mauro
de Vasconcelos) só pra chorar. Tinha uma ligação muito forte com a minha vida
de criança com meu pai. Chorava por relacionar a minha vida daquele momento de
adolescência longe da minha família dos tempos de criança e que mesmo sofridos,
hoje, essas lembrança só me engrandece porque tiveram influencia no meu
aprender a ler. E eu gostava de ler com meu pai. Mas triste fico, quando sei
que as escolas me fizeram deixar de gostar de ler. Não tinha mais meu pai ali.
Não sei se foi importante eu escrever
esses dados, mais só foi pra constatar as duas formas de pensar -a memória
-conservação e memória-recordação.
Acordo atordoada. Olho o relógio, o
tempo é curto. Preciso chegar a tempo na faculdade. Os minutos parecem
acelerar.São 30 minutos de caminhada. Chego a tempo de participar da discussão.
O assunto é “Memórias Docentes”. Fátima começa socializar o encontro com Marcea
falando da atividade desenvolvida com os monitores - a importância do uso dos
tempos do verbo na fala e na escrita. Fico atenta e reflito, tanto na fala
dela, quanto nas falas das colegas. Enriqueço meu conhecimento, sano algumas
dúvidas em relação ao texto “memorial”. Constato a dificuldade desse exercício
mental. Fátima reforça a fala de Marcea, o quanto é significativo relembrar
fatos e dados que marcam o percurso de todos nós como professores.
Fica entendido que mesmo sendo um
memorial de formação em que a referencia é sempre a ocupação profissional, é
necessário citar dados relevantes que de certa forma não foge ao contexto
histórico, e que no narrar é preciso a ele dados familiares que condizem ao
contexto, como citei na primeira reflexão sobre o relembrar de um fato lendo
outro.
Recordo-me agora quando subititulei o
texto “memorial” em “Eu estudante” Eu professora, Marcea fez a seguinte
observação (cuidado com as cacofonias).(tem boas idéias, mas seu texto ta
desconectado) Entendi que não há necessidade dos subtítulos e que tenho que encontrar
o retalho que falta para concluir a colcha, ou seja, que tenho de dá sentido ao
texto entrelaçando idéias e conceitos de memória para um texto único sem
divisões. Essa compreensão foi a parti da discussão no grupo baseado nessa
informação”.
Do ponto de vista da organização geral
do texto, vale dizer ainda que, a depender do estilo do autor, é possível
lançar mão de subtítulos e outros recursos que possam orientar o leitor, em
relação ao conteúdo abordado ao longo da memória (Gonçalves)
Essa informação me fez refletir nessas
retomadas do ontem e o agora e vice – versa. Entendi que é imprescindível, além
das formas verbais, os fatores que contribuem para a busca da memória, lembrar
o que de fato é necessário para o contexto das memórias narrado e escrito, pois
a cada contextualização para o que se vive no dia a dia, seja profissional ou
pessoal, fazem trazer à memória fatos importantes para o enriquecimento da
história contada e refletida no presente.
Ao recordar passamos a refletir sobre
como compreendemos nossa própria história e a do que nos cercam. A discussão
sobre o tema fez-me repensar em dois itens, primeiro, ao trazer minhas
recordações ao presente tenho que me ater para o meu “eu” como produtor da
minha própria história de vida, quanto tanto, para os que me lêem. Isso quer
dizer, que mesmo nas minhas narrativas escritas, tenho que ser autocrítica no
sentido de conhecimento adequado para não deixar de pensar no contexto que eu
narro e busco memórias de experiências sobre um fato ocorrente/ocorrido. E
esse fato é contemplado com os acontecimentos de fora, ou do mundo que nos
rodeia, como também sua representação.
E o que constato é um paradigma em
relação ao resgate da história local, o qual estamos inseridos, como exemplo,
cito, quando na criação dos blogs coletivos das escolas, em que nós como
professores, não sabíamos a data de nascimento da escola onde trabalhamos. E
isso me fez refletir e tomar uma iniciativa, a de desenvolver atividades junto
com as crianças dentro de um estudo intitulado “Quem sou, De onde estou” em
Geografia e História “Cante e Encante Com Contos” em Português.Socializei a
idéia com minhas colegas de turno e já vamos iniciar essas atividades após o
recesso de junho. Acredito ser possível conhecer as histórias locais buscando o
global e até mesmo desenvolver o espírito de luta e esperança de dias melhores,
tanto na escola, quanto na comunidade, partindo do pressuposto que a escola
gera um lugar criador de cultura e não cultura sem memória, como nos diz:
(...) Resgatar histórias e narrativas
no cotidiano da escola é concretizar o tempo a partir do espaço (...) (PEREZ apud MARTINS,
2001) (...) A sociedade humana se realiza no espaço “banal” no cotidiano, o que
nos remete ao estudo do lugar que guarda em si, não de fora dele (...) (PEREZ) (...)
Assim o espaço e o seu uso, o tempo e seu uso, a materialidade em diversas
formas e as ações humanas em diversas feições (...) memória e narrativas do/no
cotidiano, são tomados como indícios que apontam para possibilidades abertas à
construção de um olhar impregnado de futuro (...) (PEREZ apud BOSI, 2003).
Sei que Márcea quando especificou a
página 19 da revista Presença pedagógica jan/fev 2006 pensou em que eu lesse o
trabalhar a memória como autor dela mesma, mas que também nos orienta para o
fato que a retenção dos fatores sócio - políticos - culturais contra o
conservadorismo e modismo da atualidade pura e simplesmente, nos carregam para
um precipício do esquecimento, ou seja, deixamos de fazer a nossa história para
lermos e contemplar as histórias alheias.
Vera Vasconcelos
Que sentido tem o memorial para minha
vida profissional?
Hoje o texto “memorial” tem um outro
significado na minha formação profissional e pessoal. Descubro que o meu
percurso profissional, fatores do passado contribuíram para a decisão de ser
professora atuante. De querer buscar o diferente e não sabia como e nem que
caminhos seguir. Constato que ao descrever sobre o papel as desilusões,
tristezas, alegria, angústia, sucessos e insucessos me fazem refletir sobre as
ações do passado que influenciaram na prática educativa presente. Vejo-me
debulhada num texto para entender de que maneira eu busco na memória fatos e
dados que contribuem para minha formação significativa.Tento dialogar com a
autora quando diz:
No que tange aos estudos vinculados a
formação de professores, a memória comparece como fenômeno a ser investigado ,
quer nas várias dimensões da historia individual, quer na constituição,
sagração e recuperação de uma historia coletiva da profissão ( Clarice.2003)
E buscar memória fatos e dados para
compor minha historia escrita reflexiva, sinto uma enorme dificuldade porque
lembrar é natural, o difícil é trazer essas memórias para o contexto real e
reconstruí-las, visto, que não existe presente sem passado. E interfacear
memória e historia em que negatividade e positividade são constantes nas
lembranças, não é fácil por si só fazer essa ligação, quando na elaboração do
texto, devido a necessidade de saber fazer essa interface no sentido de reconstrução
da mesma. Com esse entendimento estou a pensar sobre o que cita Clarice “as
características das historias de vida sugerem que elas devem ser consideradas
como instrumentos de reconstrução da identidade, e não apenas como relatos
factuais” (Clarice apud Pollak)
.Esse estudo com a professora Marcea me
fez retomar o texto “memorial” para uma releitura. Já confirmo que muitas
informações ficaram vagas, faltando ali as causas dos acontecimentos trazidos
na memória, voltado mais para um relato de fatos, sem reconstrução.
Compreendendo que se eu não tenho conhecimento da época buscada, com certeza,
não faço reflexão para rever minha pratica docente.
Nesse ciclo venho percebendo que os
estudos estão sendo como se fosse uma montagem de uma cocha de retalho, ou
seja, interfaceados -o que conto hoje, não é de hoje, é de muito tempo atrás,
desde quando o homem começou a sair da escuridão nos séculos XVII e XVIII e
começou a pensar, passando a não só contemplar a natureza, mais procurar saber
a razão da sua existência. O estudo proposto por Roseli – Pedagogia ao Longo da
História e Dimensões Filosóficas me ajudou bastante a ampliar meu conhecimento
no estudo –Memórias Docentes com Marcea, bem como o estudo literário “Dom
Quixote de La Mancha com Maragareth. Vejo quanto é tamanha minha
ingenuidade diante de um mundo contemporâneo cheio de múltiplas escolhas e
caminhos impostos pela mídia que ouço e vejo sem me dá conta que por detrás
dessas informações atuais tem uma conseqüência histórica de criação e evolução
social, ou eu faço parte, com conhecimento para mudar, ou devo calar-me”.
Calo –me quando vivo na escuridão e
demonstro resistência para que essas mudanças ocorram de fato. Se tento mudar
sem conhecimento adquirido, não consigo. E tenho que contradizer com o termo –
o tempo apaga tudo, ou ajuda a apagar, se não revivo e reconstruo a minha
história junto com outros que a compõe para realmente quebrar o paradigma de
que o tempo apaga tudo.
Outros leitores virão e poderão
apropriar das minhas memórias de estudante da Ufba no curso de formação de
professores em Irece com justa causa de conhecimento envolvendo emoções
compartilhadas e experimentadas, e me verá viva, visto que memória não se faz
por si só, e sim, em coletividade tanto nas experiências escolares, quanta nas
relações educação e escola que hoje podemos ver como memória recordação e não
como depositório de dados fragmentados de conceitos.Acredito que por esse
motivo tão conteudista das escolas, Clarice conclui dizendo que “a história da
educação começa onde a escola termina” (Clarice, 2003)
Ao meu ver, não há simultaneidade entre
história e memória, ou se estuda a historia como conhecimento pronto, ou se
produz texto memorialísticos sem reconstrução. É ai a objetividade desse Geac –
Memórias Docente ver as duas faces como dependentes uma da outra. Esse ponto é
reforçado na fala de Clarice “Essa educação pela memória, se corporifica no
trabalho de dar sentido” (Clarice, {2003}).
É presente em algumas escolas da rede
pública o não se fazer história do seu próprio lugar. Esse informe é
comprobatório, só basta fazer uma averiguação e constatar que professores e
alunos não conhecem a própria história, mas está escrito no currículo escolar e
planejamentos o objetivo bem claro – conhecer a realidade, a qual estão
inseridos os alunos.De que realidade falo, se não a conheço? Se não a vivo
dentro da escola, tudo é superficial, fragmentado. É visível se ver nos projetos
elaborados o produto em desfile, seminário, mas o percurso andado não é tão
explorado, no sentido de fazer historia. Ele é solto, consumista, às vezes,
muito mais pra serem preenchidos relatos, diários, de que para mudar os
conceitos tão distanciados na prática educativa, que é a construção da historia
através da memória do o lugar de onde estou.
O que constato, apesar das atividades
oferecidas no curso de formação de professores, que essa lacuna não está sendo
preenchida. A memória local é deixada muitas de lado e tentamos contemplar
outras histórias. Com certeza não durarão por muito tempo, já que o meu lugar
não foi visto, sentido e reinventado. Mas isso não se realiza somente nos
registro de trabalho de textos memorialisticos, e sim, na mudança real de um
conjunto de pessoas, no caso, o corpo docente e discente junto com a direção,
secretarias de educação. Esse dado é sério e problemático, não pode está
somente nos trabalhos a serem entregue aos professores para ser dada uma nota,
tem que ser avaliado rigorosamente pelas Secretarias de Educação. Fico a me
questionar, com é possível num contexto escolar alunos e professores não
conhecer a historia da Escola? Esse fato é notório. A exemplo dos desfiles em
comemoração ao aniversário da cidade, maio e 2004, ao admirar a beleza de um
carro alegórico, perguntei aos alunos que ali estavam, o que estavam
representando e nenhum soube dizer o significado da alegoria. E eu não estou
tirando o corpo fora, não, estava contribuindo com os fazem-de-conta. Olhando com
outros olhos agora, me parece que o mais importante é o exibicionismo para
fotos e fotográficos e sair na manchete do jornal, que ao meu ver de hoje,
serão apagados da memória dos alunos, assim que acaba o desfile, já que são
usados como cobaias de exibicionismo de uma cultura sem resgate, sem memória,
sem conhecimento e sem reconstrução.
Que pagar pra ver? Peça a qualquer
aluno pra contar a historia a sua própria escola. E professores também!
Referências bibliográficas
Revista – Presença pedagógica: v.12.N.67.jan/fev.2006
CATANI, Denice Bárbara-Lembrar, narrar, escrever: memória e
autobiografia em história da educação e em processo de formação. Cap.7, 1997.
NUNES, Clarice – Memória e historia da educação: entre práticas e
representações: cap. 8
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